quinta-feira, 20 de agosto de 2009

UM ESTRANHO PARADOXO ENTRE MATEMÁTICA E ECOSOFIA


UM ESTRANHO PARADOXO ENTRE MATEMÁTICA E ECOSOFIA

EDMARCOS MARTINS JORDÃO


e-mail: pleiadeslouco@yahoo.com.br

Resumo. Matemática e ECOSOFIA, o que, pois existe entre o limiar dessas duas vertentes do pensamento humano? Uma rege sobre as codificações, decodificações e lógica do mundo que nos cerca e a relação que tem com a realidade, o outro ensaia entre o pensamento ecológico e a relação que os homens têm com a natureza. Pois bem, será que há relação entre esses dois distintos ramos do conhecimento?

Palavras chave: ecosofia;ecologia; matemática; reflexão;



UM ESTRANHO PARADOXO


Segundo a Wikipédia ECOSOFIA “é a junção de ecologia com filosofia.” Entre outras palavras é um ramo que atrai conceitos e atitudes ecológicas unidas com o pensamento abstrato humano ou filosófico. (WIKIPÉDIA, p.1, 2009)


Introduzida pelo filósofo norueguês Arne Naess e o militante francês Félix Guattari suas idéias ainda repercutem e provocam debates no mais variados campos de investigações humanas. Em parte isso se dá devido ao caráter inovador de seu pensamento nas áreas ambiental, social e de subjetividade humana, sendo, portanto, um elo transigível entre ecologia, filosofia e matemática. Esta última, por sua vez, assume um papel não muito bem definido entre os menos observadores no que tange à filosofia voltada à ECOSOFIA, mas é bem verdade que antes das formulações e hipóteses matemáticas, mesmo entre as mais famosas, primeiramente exigiu-se um pensamento filosófico e em seguida a ação. É de vital importância o pensamento de ação - reflexão - ação, e o que parecia apenas métodos pedagógicos de ensino tornaram-se agora também instrumentos da ECOSOFIA, pois é mediante um pensamento reflexivo do homem, suas relações com a natureza e os laços que carrega com o meio natural que o habilitará a viver em harmonia com a natureza e a possuir um melhor padrão de vida.


É dessa relação que surge o paradoxo: Matemática pode ser entendida como codificação, decodificação, filosofia e ação, ecologia como o conjunto disso tudo, só que de uma maneira mais profunda, como defende Arne Naess. Entretanto aparentemente são áreas totalmente distintas entre si.



ECOSOFIA E MATEMÁTICA – ELOS DISTANTES DA MESMA CORRENTE



O próprio mundo em que se vive é formado por todas as características e moldagens que apresenta. As pedras, as flores, as montanhas, as árvores, o ar, a água, os animais, o fogo são todas formas existente nesse mundo que interagem com os homens e fazem parte dele. Para entender como tais coisas funcionam dividiram-se e subdividiram-se várias áreas de pesquisas nesses e outros setores a fim de melhor compreender a finalidade, funcionamento e relação delas com o homem. Para tanto foi necessário a criação de certas ferramentas a fim de que isso fosse possível e a matemática mostrou-se ser a mais belamente expressa a também a mais eficaz.


Quando o físico teoriza sobre algum efeito físico ou fenômeno natural, ele pratica o pensamento, exercita a imaginação, cria hipóteses e em seguida, depois de uma conclusão, decodifica os dados em equações. Essas equações são a forma escrita tanto dele como de outros cientistas melhor compreenderem e até de testarem a veracidade das conclusões tiradas. É, portanto, uma ferramenta que auxilia nas descobertas científicas e é partícipe nas modulações de hipóteses e conclusões. O mesmo se dá com o ambientalista: Apoiando seus estudos com o impacto que o homem causa com a natureza, ele cria hipóteses, formula conclusões e neste instante, muitas vezes inconscientemente usa a matemática a seu benefício.


A ecologia corrobora com essas idéias, pois a manutenção, a incorporação, a reflexão e a ação criam um conjunto de equações e adições de termos e situações que igualam em uma solução, ao qual o matemático chama de raiz ou solução do problema e o ambientalista ou ecologista chama de harmonia. Se há diferença, isto é, se a conclusão não chega a lugar nenhum, há uma incompatibilidade ou inequação do problema.

O que intriga é que ambas as formas de pensar usam princípios profundas de pensar que remontam á filosofia a se aprofundam em um único ser como um todo. Como dito anteriormente o planeta não é pedra isolada, nem água isolada ou árvores isoladas, antes, porém é o conjunto de todas elas. Em educação se chamam isso de interdisciplinaridade, em matemática poder-se-ia chamar de matemática aplicada, que é o maior sentido dessa ciência.


A ECOSOFIA, como parte integrante das escolhas do indivíduo no mundo que o cerca, arremete sobre as possibilidades dessas opções e os efeitos dela no meio ambiente. A Terra é um organismo único e mesmo uma parte sua mínima devastada pode provocar transtornos em algum canto do planeta ou em algum grupo de pessoas. Deve ser entendida como um organismo mesmo, tal como a concepção de Gaia1 e as ciências existem a fim de explicarem racionalmente esses processos.

Em matemática existe um novo ramo de estudos que se chama matemática dos Fractais. É incrível o que uma equação pode criar: Imagens só vistam antes em sonhos, recriações de paisagens naturais, órgãos animais, explicações para fenômenos jamais compreendidos e aplicação direta e indiretamente no mundo financeiro e tecnológico. Com uma consciência atuante é fácil perceber que se não houver a junção entre as ciências e filosofias e aplicá-las na natureza jamais se compreenderá o mundo em que se vive nem muito mesmo salvá-lo das ações de seus próprios residentes.

A sabedoria proposta pelo tema e a vertente a que ele se direciona enfatiza a necessidade do homem reconhecer que não só ele é integrante da natureza, mas todos os seres vivos o são e possuem importância tão quanto ou até mais que a humanidade tenha. A própria matemática e seus princípios básicos corroboram para isso, afinal não é só do indivíduo humano a capacidade de raciocinar e fazer contas.


É sabido que alguns animais, mesmo que inconscientemente, realizam cálculos mentais e até contagem, como a dada falta de um filhote de pássaro no ninho. Como ele conseguiria tal feito? Como sabe que há a falta de um de seus filhotes se não por saber que antes tinha X e agora tem Y? Ora, para o homem, Y seria igual a X menos um e colocaria isso na forma de escrita: Y = X – 1, que é uma equação e, portanto, uma codificação da realidade que ele vê e acha que é correta. Talvez em algum lugar do Universo se discuta se realmente 2 + 2 = 4, mas isso não ocorre nesse.



Figura 1 Figura 2


A forma emaranhada das artérias nos pulmões humanos (Fig.1) e no coração (Fig.2) são exemplos de fractais. (Disponível no site: (http://cftc.cii.fc.ul.pt/PRISMA/capitulos/capitulo2/modulo4/topico6.php, p.1, 2009)


Quando o matemático adentra numa floresta, ele não pensa como um ambientalista ou biólogo, ele pensa como matemático e por mais esforço que faça, sempre tentará codificar em equações a realidade que está vendo a fim de que outras pessoas, ao verem sobre sua codificação, a decodifiquem e tenha a mesma visão que ele teve só, sem [1]estar no mesmo local que ele. Não são somente essas diferenças: Quando um biólogo vê uma Vitória Régia ele a analisa biologicamente, em que ecossistema está inserido, quais espécies pode abrigar e que contribuição dá no meio em que vive entre outras tantas indagas, ao contrário, se um matemático vir uma dessas plantas ele questionará sua forma, sua geometria e cores e comparará com os fractais e tentará reproduzi-la graficamente ou fractaicamente. Ambos sabem que estão lidando com projetos naturais perfeitos e altamente evoluídos. Isso em si já abre as portas entre os dois ramos ao qual passará por uma profunda meditação de valores, conceitos e ação não somente sobre o meio florestal, mas também urbano e social.



RECICLAGEM MATEMÁTICA


Muitos produtos e bens de consumo quando ficam em desuso causam efeitos catastróficos no meio ambiente. A esses comumente chamados de lixo, consiste num dos mais sérios problemas da humanidade, apesar de estudos esforçados e altamente tecnológicos serem empregados com essa finalidade.


Quando aqui se fala em reciclagem matemática logo vem à mente usar certos conceitos e assuntos matemáticos, reaproveitando-os de um modo que ainda sirvam a algum propósito. Bem, apesar de o subtítulo sugerir essa hipótese esse não é o objetivo. Como assim? É natural o ser humano desenvolver a linguagem a fim de se comunicar desde sua infância e é sabido que essa faculdade torna-se mais ativa a cada dia que passa, sendo, na verdade, uma evolução. Com matemática é um pouco complicado falar disso. Por quer? Porque não nascemos com a faculdade pré-programada para linguagem matemática, antes se deve desenvolvê-la com muito esforço e força própria através de treinos e estudos durante certos períodos de tempos que variam segundo a capacidade intelectual de cada um. Embora isso seja verdade, é possível resgatar alguns valores matemáticos amiúde perdidos em alguma fase do desenvolvimento humano e compará-los, desde cedo, com a realidade. Em outras palavras todos têm capacidade de fazer matemática, o problema é que a concebem de uma forma preconceituosa e não crêem que podem fazê-la por achar que é complicada demais. Esse é o erro.


Quando se fala em ECOSOFIA se visa resgatar reflexões sobre a vida e adaptá-las a realidade, e uma forma eficaz de se conseguir é através da matemática. Esta deve ser entendida como uma linguagem, uma ferramenta que precisa de um meio para se difundir e fazer sentido, e o sentido se faz com o ato de pensar e a interdisciplinar. Todas as coisas nesse mundo têm seu valor e o homem necessita de compreender isso, onde pode ser também apenas uma mera ferramenta de trabalho visando um determinado objetivo de alguém, quem sabe Deus.


Uma vez entendido a Terra como um organismo que interage com seus residentes os processos de reciclagens naturais se dão de forma tão corriqueira e normal que as pessoas mal percebem. Contudo esses processos manipulam áreas desde a biologia, medicina, química, física à matemática. É um ciclo natural a que cabe ao homem preservá-lo e interpretá-lo com modelos matemáticos.


Como a mente humana anda muito embotada pelos valores sociais e a própria sociedade em que vive, acaba esquecendo de fazer matemática deixando de conjugar fatores importantes matemáticos na sua compreensão. É nesse sentido que se fala em reciclagem, a saber, de resgatar valores e formas de pensar lógico transigentes à matemática e os observar no dia-a-dia.


CONCLUSÃO


O paradoxo aparente encontrado entre a ECOSOFIA e a MATEMÁTICA barrou no conjunto de fatores que cercam e formam esse mundo. O pensar lógico é inerente à todas as espécies e interpretá-los consiste num desafio de REFLEXÃO e competência, seja no campo da ECOLOGIA ou em qualquer outro que forma a realidade em que se vive.


Unir os fatores e relacioná-los entre si é, de fato, fazer matemática e pensar ecosoficamente, afinal reflexão nas ações comungando com a natureza é um desafio a ser vencido.

Referências

[1] FRACTAIS e a geometria da natureza. Disponível em:

<http://cftc.cii.fc.ul.pt/PRISMA/capitulos/capitulo2/modulo4/topico6.php>. Acesso em: 03 de mar. 2009.



[1] A Teoria de Gaia é uma teoria que afirma que a Terra é um organismo vivo que se defende quando ameaçada e uma forma de se fazer isso é através dos maremotos, terremotos, tufões e tantos outros desastres naturais. A humanidade seria um câncer a que a Terra estaria tentando se livrar.

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